Há quem diga que Hitchcock só filmou histórias de amor. Talvez isso não corresponda inteiramente à verdade mas, se houve histórias de amor que Hitchcock filmou, “Vertigo” foi, com toda a certeza, uma delas. E, de entre todas as histórias de amor que o cinema contou, “Vertigo” é talvez a mais hipnótica, a mais pungente e a mais obsessiva de todas.
A primeira vez que vi “Vertigo” foi na televisão. À época, já tinha visto alguns filmes de Brian de Palma e de Martin Scorsese pelo que o impacto de algumas técnicas e planos que via agora Hitchcock usar quase me passaram despercebidas. Mesmo todo o enredo me parecera padecer numa espécie de deja-vu de pequeno ecrã. Mas, “Vertigo” ficou sempre à mão porque o vhs permitia esse luxo. Depressa me viciei no filme e compreendi que andou meio mundo a imitá-lo. A cena da escadaria em que a vertigem era encenada com uma eficácia notável, o jogo de luzes e sombras que transmitiam os laivos de sobrenatural que me provocaram regulares arrepios na espinha e aquela imagem tão sedutora (mas a rasar quase o ameaçador porque tudo se revela) em que Kim Novak aparece numa nebulosa de néon são-me ainda hoje absolutamente inesquecíveis. E ainda há a música de Bernard Herrmann e a sequência do título de Saul Bass que são do mais exemplar que o cinema ofereceu às plateias.
Há uns anos atrás tive o privilégio de ver “Vertigo” em sala de cinema, no Nimas, em cópia nova. Foi uma experiência inolvidável puder sentir todas aquelas cenas que me marcaram num ecrã grande e no ambiente de cinema. Por essa altura li bastante sobre o filme e até fiquei a saber que o efeito da vertigem que Hitchcock criara - e que Chabrol (“A Mulher Infiel”), Arthur Penn (“Alice`s Restaurant”), De Palma (“Body Double”) e outros imitaram - resultava da combinação de dois movimentos simultâneos de câmara, através das lentes que vão ora para a frente ora para trás, dando a noção do achatamento do espaço da tela. Recordo também João Benard da Costa referir que se havia cena no cinema que sempre o comovia era aquela do néon; e como o compreendia.
Numa primeira impressão, “Vertigo” é um thriller que, na aparência, se resume à história de um polícia (James Stewart) com acrofobia que é contratado por um velho amigo para vigiar a mulher (Kim Novak) com tendências suicidas. Ela vive numa profunda instabilidade emocional relacionada, eventualmente, com a crença de que é outra pessoa, alguém que morrera em circunstâncias trágicas muito tempo antes. Mas depois, este polícia fragilizado pelo medo das alturas apaixona-se, envolve-se profundamente com a mulher que deveria vigiar e que anseia desesperadamente salvar. E, é a incapacidade em lidar com o maior dos seus medos que faz com que ele a perca. Até que, surge a oportunidade de recuperar o amor perdido e, num exercício da mais profunda monomania emocional, “reconstruir” a mulher que se amou, até ao desenlace incontornável, em que a perda se torna definitiva.
A primeira vez que vi “Vertigo” foi na televisão. À época, já tinha visto alguns filmes de Brian de Palma e de Martin Scorsese pelo que o impacto de algumas técnicas e planos que via agora Hitchcock usar quase me passaram despercebidas. Mesmo todo o enredo me parecera padecer numa espécie de deja-vu de pequeno ecrã. Mas, “Vertigo” ficou sempre à mão porque o vhs permitia esse luxo. Depressa me viciei no filme e compreendi que andou meio mundo a imitá-lo. A cena da escadaria em que a vertigem era encenada com uma eficácia notável, o jogo de luzes e sombras que transmitiam os laivos de sobrenatural que me provocaram regulares arrepios na espinha e aquela imagem tão sedutora (mas a rasar quase o ameaçador porque tudo se revela) em que Kim Novak aparece numa nebulosa de néon são-me ainda hoje absolutamente inesquecíveis. E ainda há a música de Bernard Herrmann e a sequência do título de Saul Bass que são do mais exemplar que o cinema ofereceu às plateias.
Há uns anos atrás tive o privilégio de ver “Vertigo” em sala de cinema, no Nimas, em cópia nova. Foi uma experiência inolvidável puder sentir todas aquelas cenas que me marcaram num ecrã grande e no ambiente de cinema. Por essa altura li bastante sobre o filme e até fiquei a saber que o efeito da vertigem que Hitchcock criara - e que Chabrol (“A Mulher Infiel”), Arthur Penn (“Alice`s Restaurant”), De Palma (“Body Double”) e outros imitaram - resultava da combinação de dois movimentos simultâneos de câmara, através das lentes que vão ora para a frente ora para trás, dando a noção do achatamento do espaço da tela. Recordo também João Benard da Costa referir que se havia cena no cinema que sempre o comovia era aquela do néon; e como o compreendia.
Há muitos filmes de Alfred Hitchcock que me apaixonam, como "Spellbound", "Janela Indiscreta", "Psico" ou "Marnie". O velho mestre britânico foi um desses génios raros que, com tantas obras, fez do cinema uma arte com maiúscula. Mas “Vertigo”, essa história de amor repleta de fantasmas, é a Obra. Não será heresia que muitos cinéfilos do mundo o elejam como o maior de todos os filmes do cinema americano.
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