domingo, 24 de abril de 2011

ONE FROM THE HEART, de Francis Ford Coppola

O encontro com One From the Heart, o filme que Coppola sonhou e concebeu após Apocalypse Now, continua a ter o condão de arrebatar os sentidos daqueles que há mais de duas décadas o redescobrem e continuam a fazer dele um filme de culto. Flop total à época, a dimensão desta história de amor relativamente banal, situada numa Las Vegas construída em neons coloridos totalmente concebida em estúdio, pode, aparentemente, julgar-se como uma improvável obra-prima no percurso de Francis Ford Coppola, um dos maiores cineastas norte-americanos do último terço do século XX. O encanto e o charme de One From the Heart não provém propriamente da história, nem sequer das personagens, algo carenciadas de densidade, que a habitam. O que o torna único e mágico, e faz deste inovador e revolucionário objecto cinematográfico uma obra tão amada, é todo um conceito muito particular de estética e imaginação que, aliada à música e às canções absolutamente fabulosas de Tom Waits, arrebata os sentidos e surpreende a cada visionamento, como se de uma capacidade a si imanente se tratasse.
Numa carreira marcada por obras-primas absolutas, como O Padrinho e Apocalypse Now, One From the Heart representa na filmografia de Coppola (e até mesmo no cinema americano após a revolução da década de 70) um reencontro com a magia dos grandes clássicos da época dourada de Hollywood. Um musical integralmente concebido como projecto de dezenas de artesãos que, liderados por Coppola, recriam Las Vegas nos estúdios da Zoetrope, em Los Angeles. O início do filme é bem sintomático desse “filme artesanal”, quando por entre as dunas de areia e os corpos nus de mulheres, se ergue a cidade “imaginária” que projecta no céu, com os seus neons penetrantes, todo um mundo mágico, cantado em dueto por Waits e Crystal Gail, fazendo daqueles minutos dos mais belos de todo o filme. Depois, é deixarmo-nos levar… e encantar!
One From the Heart, Francis Ford Coppola, EUA, 1982

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